Terapia cognitivo-comportamental mostra-se eficaz no tratamento de sintomas de trauma em crianças

por Marlene Busko

Uma recente revisão realizada pela Força-Tarefa de Serviços Comunitários Preventivos evidenciou provas concretas que apóiam o emprego da terapia cognitivo-comportamental individual e em grupo para reduzir o comprometimento psicológico em crianças e adolescentes expostos a traumas.
A revisão da literatura demonstrou que essa terapia foi eficaz na redução de transtornos depressivos, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e de outros sintomas nessas crianças.
Entretanto, os autores escrevem que, aparentemente, mais de 75% dos clínicos que atendem crianças com transtorno de estresse pós-traumático utilizam arte, brincadeiras, drogas ou outras terapias que não possuem provas de eficácia suficientes.

A revisão, realizada pelos membros da força-tarefa escolhidos pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), foi publicada na seção de setembro do American Journal of Preventive Medicine.
Em declaração ao Medscape Psychiatry, Robert Hahn, PhD, afirmou que “a população de crianças expostas a traumas é grande, e muitos médicos estão utilizando intervenções para as quais não encontramos provas suficientes, deixando de utilizar as que acreditamos ter evidências fortes de eficácia. Então, esperamos que nossos resultados promovam uma reforma nesta prática”. Dr. Hahn é cientista coordenador do CDC, em Atlanta, na Geórgia, e um dos autores do relatório da força-tarefa.
Embora algumas crianças pareçam não manifestar comprometimentos aparentes ou tenham sido apenas transitoriamente acometidas pela exposição traumática — que pode variar de abuso sexual a tiroteios na escola e desastres naturais, como furacões — outras crianças não tratadas podem desenvolver transtorno do estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, problemas de abuso de substâncias, ou até comportamento suicida, ressaltou o pesquisador.

Problema generalizado
Os autores da revisão escrevem que a exposição a eventos traumáticos, tais como abuso físico ou sexual, violência doméstica ou social e desastres naturais, é comum entre as crianças dos Estados Unidos. De acordo com uma pesquisa nacional envolvendo crianças entre 2 e 17 anos de idade, uma em oito foi submetida a maus tratos, como abuso, agressão social repetida (bullying) ou negligência, e uma em doze sofreu abuso sexual.
Em decorrência da elevada taxa de exposições a eventos traumáticos e do potencial para conseqüências em longo-prazo das não tratadas, essa revisão objetivou analisar intervenções comuns a fim de determinar quais são eficazes, com base nas melhores provas disponíveis.
Os revisores estudaram trabalhos publicados sobre crianças de até 21 anos de idade, vivendo em países de alta renda e que foram expostos a trauma. Para serem incluídos na revisão, os estudos deveriam ter avaliado as conseqüências psicológicas comuns, como transtorno do estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e transtornos de externalização (comportamento disruptivo, por exemplo) ou de internalização (fobia ou inibição).

Provas apóiam terapias baseadas em conversas
Onze estudos sobre terapia cognitivo-comportamental individual e dez sobre terapia cognitivo-comportamental em grupo apresentavam os critérios exigidos pela revisão. As crianças incluídas nestes estudos participaram de 2 a 20 sessões individuais da terapia ou de 1 a 10, em grupo.
Os estudos apresentaram provas importantes de que a terapia cognitivo-comportamental, tanto individual quanto em grupo, associa-se a reduções no comprometimento psicológico. “Isso é muito animador, pois proporciona uma forma efetiva de tratar estes pacientes”, declarou Dr. Hahn.
Por outro lado, os pesquisadores encontraram provas insuficientes sobre a eficácia e somente um número limitado de estudos (um a quatro para cada) para as outras cinco terapias: brincadeiras, arte, terapia psicodinâmica, terapia farmacológica e debriefing psicológico N.T..
“A falta de informações sobre drogas e o fato de que muitos médicos não são treinados para práticas baseadas em evidências são decepcionantes”, declara Dr. Hahn. O grupo espera que os clínicos adotem os tratamentos baseados nas melhores provas científicas e que pesquisadores realizem estudos que forneçam novas evidências sobre intervenções não comprovadas.
Os pesquisadores ressaltam, ainda, a necessidade de mais rastreamentos a fim de identificar sintomas de trauma em crianças, que poderiam ser realizados nas escolas, para ajudá-los a receber o tratamento de que precisam.
Um resumo dessa revisão — a última de seis que analisaram intervenções elaboradas para reduzir ou prevenir violência realizada contra ou por crianças e adolescentes — está disponível em uma página da internet do CDC.

N.T. (Nota do Tradutor): Debriefing psicológico consiste em intervenções imediatas após um trauma, usualmente até 3 dias, realizadas por um psicólogo especializado em situações de emergência, com o objetivo de atenuar o estresse para evitar comprometimentos de longa duração, por meio da reconstrução narrativa da experiência e do desabafo a respeito de suas repercussões.

Am J Prev Med 2008; 35: 287-313


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